Gn.24:1a4 – Devemos observar a ligação deste capítulo com os dois anteriores.No capítulo 22 vemos Isaque ser oferecido em sacrifício e, em figura ser “recobrado dos mortos”, no 23 vemos Sara ser posta de lado findando sua vida. No capítulo 24 vemos “o servo” de Abraão indo buscar uma noiva para seu filho que, em figura, havia sido sacrificado. Será que não podemos ver aqui uma perfeita alegoria da ação do Espírito Santo chamando e edificando a “Noiva do Cordeiro”, a Igreja do Senhor Jesus?
Assim, podemos fazer uma tipologia, do Velho com o Novo Testamento, da seguinte forma: rejeição e morte de Cristo, Israel é posto de lado (Sara), a chamada da Igreja, dentre os gentios. “A parede de separação que estava no meio” tinha que ser derrubada (Ef.2:14) antes que o “novo homem” pudesse ser criado. É bom compreendermos isso para entender o lugar que a Igreja ocupa nos Caminhos de Deus. Enquanto a dispensação judaica durasse havia a mais estrita separação entre judeus e gentios e por isso a ideia de serem ambos unidos num “novo homem” (Igreja) estava longe da ideia de um judeu. Os judeus se consideravam em superioridade em relação aos gentios, de forma que para eles os gentios eram gente impura com os quais eles jamais poderiam estar unidos (Atos 10:28).
Mas os judeus perderam sua exclusiva posição de povo de Deus quando rejeitaram e crucificaram o Senhor da Glória (conforme profecia e predeterminação de Deus. Mateus 21:43 - Portanto, eu vos digo que o reino de Deus vos será tirado, e será dado a uma nação que dê os seus frutos). Israel ainda possui seu lugar nos Planos de Deus, podemos ver isso nas profecias do Apocalípse, mas neste tempo da Igreja, estamos vivendo “o tempo dos gentios”(Lc.21:24). Por isso Paulo afirma: Efésios 3:1a6 – “POR esta causa eu, Paulo, sou o prisioneiro de Jesus Cristo por vós, os gentios; Se é que tendes ouvido a dispensação da graça de Deus, que para convosco me foi dada; Como me foi este mistério manifestado pela revelação........O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas (profetas do Novo Testamento); A saber, que os gentios são co-herdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho”.
Assim, vemos de forma conclusiva, que o mistério da Igreja, composta de povos de todas as tribos, línguas e nações (inclusive judeus convertidos), era um mistério não revelado aos santos do Velho Testamento, fato este que trouxe muita dificuldade no início da Igreja, pois os judeus convertidos tinham dificuldade em aceitar a universalidade da Igreja que não faz distinção de povos e raças. Acerca deste mistério Paulo afirma: “Fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder” (Ef.2:20).
É importante realçar que o mistério da Igreja não foi revelado em sua inteireza aos santos do Antigo Testamento, porém, sabemos que, “todos estes, tendo tido testemunho pela fé, não alcançaram a promessa, provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hb.11:39,40), a promessa se cumpre inteiramente em Cristo e em Seu corpo, a Igreja, o Novo Homem formado em ressurreição, o Plano prefeito que Deus elaborou para redimir por completo a Seus filhos, expurgando toda mácula do pecado. Concluímos que este mistério não foi revelado, em sua inteireza, no Velho Testamento, mas muitas são as pistas, figuras e tipos que o Espírito Santo ali deixou gravadas, pois “tudo o que dantes foi escrito, para o nosso ensino foi escrito, para que, pela paciência e consolação das escrituras, tenhamos esperança” (Rm.15:4), dentre estas pistas que são para nossa edificação e ensino, podemos, certamente, fazer a seguinte analogia tipológica: Isaque, o filho oferecido em sacrifício, Sara, o tronco(judeus), a árvore de onde “vem a salvação” (João4:22) é posta de lado(começa o tempo dos gentios), e o mensageiro (servo Eliézer) é enviado pelo pai para buscar uma noiva para o filho.
Uma esposa para o Filho.
Gn.24:5a14 – Para um boa compreensão de todo o capítulo devemos considerar três pontos: O pacto, o testemunho e os resultados. Rebeca nada sabia do pacto de Abraão com seu servo, embora fosse, nos desígnios de Deus o objetivo de tudo isso. Assim é com a Igreja e cada um dos seus membros.......... “no Teu livro todas estas coisas foram escritas, as quais iam sendo dia a dia formadas, quando nenhuma delas havia” (Sl.139:16). Efésios 1:3e4 – “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor”. Romanos 8:29e30 – “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”. Fica claro que a chamada, a justificação e a glória da Igreja são fundadas no propósito eterno de Deus – Sua Palavra e juramentos ratificados pela morte, ressurreição e exaltação de Seu filho. Muito antes do raiar do tempo, nos profundos recessos da mente eterna de Deus, acha-se este maravilhoso propósito a respeito da Igreja, o qual não pode, de nenhum modo ser separado do pensamento divino acerca da Glória do Filho. O juramento entre Abraão e o servo tinha como seu objetivo a procura de uma noiva para o filho. Foi o desejo do pai acerca do filho que levou a toda a dignidade posterior de Rebeca.
É tremendo vermos como a segurança e a bênção da Igreja estão inseparavelmente ligados a Cristo e Sua Glória: Porque o varão não provem da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão”(ICor.11:8a9). O mesmo acontece na parábola da ceia: “O reino dos céus é semelhante a um Rei que celebrou as bodas de Seu filho” (Mt.22:2). O FILHO é o grande objeto de todos os desígnios de Deus: e se alguém é trazido para a bênção, ou glória, ou dignidade só o pode ser por ligação com Ele. O direito a estas coisas, e até mesmo á própria vida, foi perdido sob pena do pecado; porém Cristo cumpriu a pena do pecado; Ele responsabilizou-Se por tudo a favor do Seu corpo, a Igreja: Foi pregado na Cruz como seu substituto, levou os seus pecados no Seu corpo sobre a cruz, e baixou à sepultura sob o peso deles. Por isso nada pode ser mais completo do que a total libertação da Igreja, pois a vida que ela possui, foi tomada do outro lado da morte, ela foi vivificada a partir da sepultura de Cristo, onde todos os pecados foram deixados. Assim também, nada pode ser mais terrível para a Igreja do que abandonar a centralidade da pessoa de Cristo em seu cronograma semanal e passar a adotar os costumes e hábitos em voga no mundo que rejeitou o Senhor!
A Igreja, o complemento de Cristo.
Gen.24:15a33 - A vida, a justiça e a esperança da Igreja emanam do fato de ela ser um com Aquele que ressuscitou dentre os mortos. Nada pode dar mais segurança ao coração do que a convicção que a existência da Igreja é essencial para a Glória de Cristo: “.......a mulher é a glória do varão (1Cor.11:7). Outro tanto, a Igreja é chamada “a plenitude Daquele que cumpre tudo em todos” (Ef.1:23). Desejo observar que a palavra aqui traduzida por plenitude, tem o sentido de complemento, ou, aquilo que sendo acrescentado a mais alguma coisa faz um todo! É assim que Cristo, o Cabeça e a Igreja o corpo, formam um “novo homem” (Ef.2:15). Assim entendemos mui claramente porque Deus planejou a Igreja antes da fundação do mundo.
Rebeca era necessária para Isaque, e, portanto, ela era o assunto de conselho secreto, enquanto estava ainda em completa ignorância quanto ao seu destino. Todo o pensamento de Abraão era acerca de Isaque. Gênesis 24:3e6 – “Para que eu te faça jurar pelo SENHOR Deus dos céus e Deus da terra, que não tomarás para meu filho mulher das filhas dos cananeus, no meio dos quais eu habito..... E Abraão lhe disse: Guarda-te, que não faças lá tornar o meu filho”. Aqui vemos que dois pontos são importantes: “A mulher para meu filho” e “Não tornará para lá o meu filho”. Podemos perceber que Deus considera o “não é bom quer o homem esteja só”, Ele está planejando algo para o bem do Seu filho, Ele aponta para sua metade, para Seu complemento e para Sua satisfação, este é o grande privilégio e responsabilidade de Igreja. Mas o filho convoca a Igreja a SAIR do meu dos seus parentes carnais, do meio de sua terra, ela precisa perder a mente mundana e ter a mente de uma peregrina que viaja para a Canaã celestial. O Pai deseja a perfeita união e bem aventurança para a Igreja e, também, a maravilhosa promessa do noivo que diz: João 17:22e23 – “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim”. Esta união mística de Cristo com a Sua Igreja é algo que nos chama a uma IMENSA responsabilidade porque (I João 4:17) – “Nisto é perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo”. Neste mundo a Igreja precisa ser o mais semelhante a Cristo para que se diga:“Qual Ele é, somos nós também neste mundo”. Não podemos falhar, não podemos envergonhar o noivo, a família que Deus esta formando! Cristo Jesus se orgulha de Sua noiva, Ele a exibirá pela eternidade! Que jamais venhamos a nos esquecer de nossa posição em Cristo e que o Espírito Santo sempre nos conduza e jamais nos deixe retroceder, pois “ninguém que lança a mão do arado e olha para trás, é apto para o Reino de Deus” (Lc.10:62).
Irmão Acyr Godoy
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