sábado, 14 de fevereiro de 2015

Lutero vira monge

                 


                       Durante o ano de noviciado, antes de Lutero ser feito monge, os seus amigos fizeram tudo para dissuadi-lo de confirmar esse passo. Os companheiros, que convidara para cearem com ele, quando anunciou a sua intenção de ser monge, ficaram no portão do convento dois dias, esperando que ele voltasse. Seu pai, vendo que seus rogos eram inúteis e que todos os seus anelantes planos acerca do filho iam fracassar, quase enlouqueceu.
                 Assim se justificou Lutero: "Fiz a promessa a Sant'Ana, para salvar a minha alma. Entrei para o convento e aceitei esse estado espiritual somente para servir a Deus e ser-lhe agradável durante a eternidade."
                    Quão grande, porém, era a sua ilusão. Depois de procurar crucificar a carne pelos jejuns prolongados, pelas privações mais severas, e com vigílias sem conta, achou que, embora encarcerado na sua cela, tinha ainda de lutar contra os maus pensamentos. A sua alma clamava: "Dá-me santidade ou morro por toda a eternidade; leva-me ao rio de água pura e não a estes mananciais de águas poluídas; traze-me as águas da vida que saem do trono de Deus!"Certo dia Lutero achou, na biblioteca do convento, uma velha Bíblia latina, presa à mesa por uma cadeia. Achara, enfim, um tesouro infinitamente maior que todos os tesouros literários do convento. Ficou tão embevecido que, durante semanas inteiras, deixou de repetir as orações diurnas da ordem. Então, despertado pelas vozes da sua consciência, arrependeu-se da sua negligência: era tanto o remorso, que não podia dormir. Apressou-se a reparar o seu erro: fê-lo com tanto anseio que não se lembrava de alimentar-se.
                      Então, enfraquecidíssimo por tantos jejuns e vigílias, sentiu-se oprimido pelas apreensões até perder os sentidos e cair por terra. Aí os outros monges o acharam, admirados novamente de sua excepcional piedade! Lutero somente voltou a si depois de um grupo de coristas o haver rodeado, cantando. A suave harmonia penetrou-lhe o coração e despertou o seu espírito. Porém ainda assim lhe faltava a paz perpétua para a alma; ainda não havia ouvido cantar o coro celestial: "Glória a Deus nas maiores alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!"
Nessa altura, o vigário geral da ordem agostiniana, Staupitz, visitou o convento. Era homem de grande discernimento, e devoção enraizada; compreendeu logo o problema do jovem monge; ofereceu-lhe uma Bíblia na qual Lutero leu que "o justo viverá da fé". Por quanto tempo
tinha ele anelado: "Oh! se Deus me desse um livro destes só para mim!" - e agora o possuía!
                      Na leitura da Bíblia achou grande consolação, mas a obra não podia completar-se em um dia. Ficou mais determinado do que nunca a alcançar paz para a sua alma, na vida monástica, jejuando e passando noites a fio sem dormir. Gravemente enfermo, exclamou: "Os meus pecados! Os meus pecados!" Apesar da sua vida ter sido livre de manchas, como ele afirmava e outros testificavam, sentia sua culpa perante Deus, até que um velho monge lhe lembrou uma palavra do Credo: "Creio na remissão dos pecados". Viu então que Deus não somente perdoara os pecados de Daniel e de Simão Pedro, mas também os seus.
Pouco tempo depois destes acontecimentos, Lutero foi ordenado padre. A primeira missa que celebrou foi um grande evento. O pai, irreconciliável, desde o dia em que o filho abandonara os estudos de advocacia até aquela ocasião, assistiu à primeira missa, vindo a cavalo de Mansfield, com uma boa oferta para o convento, acompanhado por vinte e cinco amigos.
                  Depois de completar vinte e cinco anos de idade, Lutero foi nomeado para a cadeira de filosofia em Wittenberg, para onde se mudou para viver no convento da sua ordem. Porém a sua alma anelava pela Palavra de Deus, e pelo conhecimento de Cristo.No meio das ocupações do professorado, dedicou-se ao estudo das Escrituras e no primeiro ano conquistou o grau de baccalaureus ad bíblia. Sua alma ardia com o fogo dos céus; de todas as partes acorriam multidões para ouvir os seus discursos, os quais fluíam abundante e vivamente do seu coração, sobre as maravilhosas verdades reveladas nas Escrituras.      

                   Um dos mais afamados professores de Leipzig, conhecido como a "Luz do Mundo", disse: "Este frade há de envergonhar todos os doutores; há de propalar uma doutrina nova e reformar toda a igreja, porque ele se baseia na Palavra de Cristo, Palavra à qual ninguém no mundo pode resistir, e que ninguém pode refutar, mesmo atacando-a com todas as armas da filosofia.

Extraído do livro Heróis da fé http://vozparaasnacoes.loja2.com.br/4125304-Herois-da-Fe

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