Gn.15:1- Este capítulo se inicia com a frase: “Depois destas coisas veio a Palavra do Senhor à Abrão.....” É fácil notarmos que há uma clara continuidade da narrativa do capítulo 14. É possível que após a guerra contra os quatro reis e a forma, até mesmo insolente e inadequada com que Abrão, simplesmente rejeitou a oferta do rei de Sodoma, ele estivesse ponderando se havia agido corretamente quando recusou os bens e até mesmo qualquer forma de amizade e honraria que pudesse vir desse rei. Não teria sido um exagero por parte da Abrao tamanha renúncia. Que ele poderia fazer agora se os quatro reis por ele derrotados se unissem com o rei de Sodoma e todos viessem tomar vingança de sua insolência, sendo ele apenas um camponês, sem muralhas que o protegessem nos campos abertos onde pastavam seus rebanhos sob os carvalhaes de Manre?
É em meio a todos estes pensamentos que ele ouve a Palavra do Senhor “dizendo: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão”. Nenhuma flecha do inimigo pode penetrar o escudo que protege o crente mais fraco em Jesus.
Gn.15:2a6- “Então disse Abrão: Senhor DEUS, que me hás de dar, pois ando sem filhos, e o mordomo da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse mais Abrão: Eis que não me tens dado filhos, e eis que um nascido na minha casa será o meu herdeiro”. Abrão sabia que sua semente herdaria a terra (Gn.13:15), e pensava que filiação e sucessão acham-se inseparavelmente ligadas na mente de Deus. Assim, o Herdeiro precisava ser, também, Filho. Como vemos em Tiago1:18- “segundo a Sua Vontade, Ele nos gerou”. Ser gerado em Deus, ser filho de Deus, nos habilita para o Reino, para a herança. Abrão pensava neste princípio e desejava ardentemente um filho. Mas seu corpo estava amortecido e também o de Sara, sua esposa. Então o Senhor da vida e da morte, Aquele que chama à existência as coisas que não são, fala a Abrão dizendo: “mas aquele que de tuas entranhas sair, este será o teu herdeiro”.
Gn.15:6 – “E creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça”. Abrão creu no fato de ter Deus poder sobre a morte, poder para ressuscitar e trazer vida onde já a morte reinava e as células se degeneravam pelo avançar dos anos e da idade. Sara poderia conceber vida em seu ventre morto! “Deus não é Deus dos mortos mas dos vivos” (Mt.22:32), por estar o homem debaixo do poder da morte e sob o domínio do pecado, não pode conhecer a posição de filho. Assim, só Deus pode conceder a adoção de filhos pelo poder do Cristo Ressurreto que destrói o poder da morte. Nesta mesma fé, Abrão pode crer que haveria nova vida no ventre amortecido de Sara e isto lhe foi imputado por justiça, porquanto creu na vida de ressurreição do Filho de Deus que vence a morte, a sepultura e o pecado. Rm.3:23e24- “Ora, não só por causa dele (Abrão) está escrito, que lhe fosse tomado em conta (a fé na ressurreição), mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor”. Esta fé, será também, a nossa justiça e justificação diante do Deus vivo, pois é através dessa fé que somos recriados à imagem de nosso Bendito Salvador quando nascemos de novo da água e do Espírito (Joao3:5) e passamos da morte para a Vida. A Vida de Ressurreição em Cristo Jesus Nosso Senhor.
Gn.15:7 – “......Eu sou o SENHOR, que te tirei de Ur dos caldeus, para dar-te a ti esta terra, para herdá-la”. Vemos aqui a grande questão do direito de sucessão, o direito à herança dada aos filhos. Paulo diz aos Romanos8:17 - “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados”. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso de glória muito excelente”(IICor.4:17). Não há dúvidas que os herdeiros participam da promessa e, também, das aflições da jornada. É uma grande honra para os discípulos beberem do mesmo cálix amargo do qual bebeu o mestre, participar do mesmo batismo de fogo de tal forma que assim como O Herdeiro, os co-herdeiros alcancem a promessa pelo caminho do sofrimento. A terra foi prometida à descendência de Abraão, mas não sem antes ter ele sido avisado que : “Saibas, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos”(Gn15:13).
Nós não podemos participar dos sofrimentos de Cristo no que concerne à ira de Deus, pois este cálix Ele bebeu sozinho, mas quanto à rejeição dos homens, à todo o discípulo é dito: “Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer Nele, mas também padecer por Ele”(Fil.1:29). Um crente jamais deverá buscar o sofrimento através de legalismos e regras humanas, tentando fazer-se mais cristão por obras e regras da Lei. Não, antes, quando verdadeiramente amamos a Cristo, nos aproximamos Dele, somos rejeitados e escarnecidos pelo mundo da mesma forma que Ele foi, sem que nós jamais venhamos a buscar isso, pois neste caso, não teria “valor algum a não ser para a satisfação da carne”.
Por outro lado, certifiquemo-nos de que não estamos com medo do cálice e batismo do Senhor. Não devemos professar possuir os benefícios que a cruz nos garante, enquanto recusamos a rejeição que essa cruz inclui. Podemos ter a certeza que o caminho para o Reino não é alumiado pelo brilho do sol do favor deste mundo, nem coberto com as rosas da sua prosperidade. Se um cristão progride no mundo, tem bons motivos para avaliar se esta mesmo na companhia do Cristo Bendito. Pois Ele disse: “Se alguém me serve, siga-me; e onde eu estiver ali estará também o meu servo”(Jo12:26). Qual foi o fim da carreira terrestre de Cristo? Foi uma posição elevada e de influência neste mundo? Ele encontrou o Seu lugar na cruz entre dois malfeitores condenados. “Mas”, dir-se-á “Deus estava em tudo isto”. Certamente; porém o homem estava nisto igualmente; e esta última verdade é que deve assegurar, inevitavelmente, a nossa rejeição pelo mundo, se tão somente andarmos em companhia de Cristo. A companhia que nos leva ao céu lança-nos para fora desta terra. E falar daquela verdade enquanto se desconhece esta, é prova de que alguma coisa esta errada.
Gn.15:13a17 – “E pondo-se o sol, um profundo sono caiu sobre Abrão; e eis que grande espanto e grande escuridão caiu sobre ele. Então disse a Abrão: Sabes, de certo, que peregrina será a tua descendência em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos, mas também eu julgarei a nação, à qual ela tem de servir, e depois sairá com grande riqueza. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado.
E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amorreus não está ainda cheia. E sucedeu que, posto o sol, houve escuridão, e eis um forno de fumaça, e uma tocha de fogo, que passou por aquelas metades.
A história de Israel é toda resumida nestas duas figuras, o “forno” e a “tocha de fogo”. Aquele mostra-nos os períodos da sua história nos quais foram levados a sofrimento e provações; como, por exemplo, o longo período da escravidão do Egito, a sua sujeição aos reis de Canaã, o cativeiro babilônico e a sua dispersão presente e a condição de exilados (antes de formação do estado de Israel na palestina). Durante todo este período de sua história, pode-se dizer que estavam passando pelo forno de fumaça (Dt.4:20; IRs8:51; Is48:10).
Em seguida, na tocha de fogo, temos aquelas fases na história de Israel cheia dos acontecimentos e que o Senhor veio em seu socorro, tais como a libertação do Egito, por mão de Moisés; a sua libertação dos reis de Canaã, por meio do ministério dos juízes; o regresso de Babilônia por meio do decreto de Ciro; e a sua libertação final quando Cristo aparecer em glória para libertá-los do poder do anti-cristo e seu exército. A herança tem de ser alcançada pelo forno, e quanto mais negro for o fumo do forno, tanto mais brilhante e alegre será a tocha da salvação de Deus.
Este princípio de tratamento e polimento de caráter aplicado por nosso Deus, não é apenas direcionado ao povo como um todo, mas individualmente da formação de cada servo. Podemos ver o forno em ação na vida de todos os grandes heróis da fé antes que viesse o prazer da tocha. “Grande espanto e grande escuridão” passaram pelo espírito de Abraão. Jacó teve de passar 20 anos de trabalhos penosos na casa de Labão. José achou o seu forno de aflição nas prisões do Egito. Moisés passou 40 anos no deserto. Assim te que ser com todos os servos de Deus. Primeiro têm que ser “experimentados”, para que, sendo tidos “por fiéis”, possam ser “postos no ministério”. O princípio de Deus, com respeito àqueles que O servem, é revelado nas palavras de Paulo, “não neófito, para que ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo”(ITim.3:6).
Precisamos compreender algo de suma importância: Uma coisa é ser filho de Deus, e outra completamente diferente e complementar é ser um servo de Cristo. Eu posso amar muito o meu filho, contudo, se o ponho para trabalhar no meu jardim, ele pode fazer mais mal do que bem. Porquê? É porque não é meu filho querido?? Não, mas porque não é um servo experimentado. Isto faz toda a diferença. Parentesco e trabalho são coisas distintas. É um fato que o serviço público e a disciplina privada acham-se intimamente ligados nos caminhos de Deus. Aquele que mais se apresenta em público necessitará de um espírito moderado, juízo prudente, mente dominada e mortificada, vontade vencida e tom maduro, que são resultados belos e seguros da disciplina secreta de Deus (o forno íntimo do Senhor, o cadinho perfeito em que Ele refina a prata e queima o barro fazendo os mais belos vasos para Sua própria honra).
Senhor Jesus, guarda os teus servos fracos muito perto da Tua Bendita Pessoa e na concavidade da Tua Mão!
Enviado pelo irmão Acyr Godoy
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