segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Razões Econômicas


O Brasil é um monumento à crise! Fruto de situações contraditórias de um modelo imperialista extrativista, o país sempre tem sobrevivido sob a expectativa do pior, ou no mínimo, do menos ruim. Crises econômicas e pacotes financeiros se sucedem com tanta freqüência que torna-se difícil imaginar o Brasil como emergindo de sua condição terceiro-mundista. O estado de pobreza a que é submetida grande parte da população tem despertado até reflexões teológicas inéditas como a Teologia da Libertação.

Se o Estado está em crise é porque o povo está em situação insustentável. Com fome, pouco salário ou desemprego, sem terra, sem saúde, sem segurança, sem dignidade. Esses subprodutos da pobreza generalizada arrastam a um estado de ansiedade e desespero que intuitivamente levam o ser humano à busca de uma solução, a mais rápida possível, no que é transcendente. Assim, pode-se afirmar que as igrejas pentecostais têm crescido às expensas da crise econômica crônica em que vive o país. Vejamos o problema pelo prisma da saúde. Há uma verdadeira falência no sistema público de saúde. Não existe medicina preventiva. A medicina curativa é marcada pelo estigma da opressão: longas filas, hospitais superlotados, ausência de remédios, péssimo atendimento pessoal, isto quando não há greves. A situação é tão insustentável que qualquer um na dependência de socorro já se imagina vítima fatal.

Por outro lado, operando como grandes agências de cura, igrejas pentecostais têm aberto suas portas para que, pelo menos, com dignidade se busque a saúde pelas vias do miraculoso. Só o milagre é mirado pelo pobre como condição de sobrevivência, sendo este real ou imaginário.

Além disso, as pressões econômicas têm favorecido em demasia o processo migratório. Do nordeste para o sul, do interior para a capital, o que se vê é o crescimento desordenado das periferias. A necessidade de adaptação à vida suburbana gera instabilidades sociais e psíquicas, que sabemos, favorecem a mudança de religião. Quando alguém se acha distante de seus pontos de referência, tanto da tradição religiosa quanto da estrutura familiar, é aí que sente a pressão por pertencer a um novo grupo social. Pentecostais têm se valido, de forma intuitiva ou não, deste princípio de crescimento de igreja. [34] Crescem em demasia nas periferias ou entre moradores destas regiões.

Outro aspecto da crise econômica endêmica se revela no paradoxo: povo pobre, mas igreja rica. Enquanto a congregação é de trabalhadores humildes, sua liderança desfila em carros importados! Tenta-se explicar esta contradição ao atestar a veracidade da doutrina malaquiana dos dízimos e ofertas. Mas, o que se observa, de fato, é um apelo financeiro patético. É o “franciscanismo” às últimas consequências disfarçado de “teologia” (da prosperidade). Mesmo que os membros fiéis pensem na primazia dos “valores” espirituais, é inegável que a fundação de uma igreja pentecostal se torna numa maneira fácil de se estabelecer um “negócio” próspero. [35] Isso pode explicar a fuga corriqueira de pastores e bispos, que abandonam as igrejas de origem, para criarem suas próprias. Seguindo uma inexorável lei sociológica, logo estas novas congregações também estarão repletas.

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