segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Razões Relativas ao Poder

 
Num país onde sempre existiu uma relação íntima entre Estado e Igreja, o envolvimento político de lideranças religiosas é plenamente compreensível e esperado. Por séculos houve a hegemonia católica, compartilhando os lucros e dividendos do poder com a autoridade política. O movimento pentecostal percebeu também as vantagens que adviriam em decorrência de sua aproximação com o poder político. Num primeiro momento, os púlpitos das igrejas se tornaram palanques. Mas, como decorrência disso, as igrejas passaram a ter representatividade política e a ocuparem espaços de poder. Gerou-se, então, a cada período legislativo, um círculo vicioso, onde as igrejas elegem seus representantes, que agora, em bancadas, aglutinam forças políticas em prol de suas igrejas eleitoras. Assim, uma igreja com maior força política terá mais poder de fogo nas famosas mesas de barganhas, conchavos e influências que infestam a vida pública em todos os níveis. Hoje, numa demonstração de controle da opinião das massas, igrejas pentecostais não somente apontam os candidatos que devem receber votos, mas indicam os que devem ser rejeitados. Esta “des-ideologização” das massas populares em nome do religioso poderá resultar em situações de comprometimento dos valores democráticos.

Deixando de lado a questão da política partidária, mas permanecendo no âmbito do poder, é inegável reconhecermos a influência que o movimento pentecostal exerce junto aos meios de comunicação de massa. Há décadas que as igrejas têm usado primeiramente o rádio e hoje também a televisão como instrumentos significativos para atender a suas pretensões evangelísticas. No início, eram apenas as emissoras católicas. Agora, predominam as pentecostais. E o chamado marketing evangélico, às vezes despretensioso, de improviso, sem muita técnica, e até ingênuo, mas que se revela como elemento de alto poder. Quem controla um veículo de comunicação de massa está, de fato, com o controle da opinião das classes populares nas mãos. Com esse pressuposto, as igrejas pentecostais têm saído à caça de canais de radiodifusão e de TV para se firmarem no “mercado”, num frenesi que se assemelha a do instinto de sobrevivência. Verdadeiras fortunas são “investidas” na compra de espaço, ou, preferencialmente, na compra de emissoras. Hoje, a concorrência não é somente pelo número de fiéis ou pela oferta nas salvas, mas também por pontos no Ibope. Isso é poder.

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